A Expansão Islâmica (séculos VII-XII): da Jihad à “Guerra Santa”
Atualmente, a maioria dos estudos históricos sobre a expansão islâmica e suas principais razões para a conquista de novos territórios e a conversão de fiéis, já abandonou antigas interpretações que, dominantes até meados do século XX, viam nesse processo a preponderância de guerras extremamente violentas, cujas principais motivações seriam religiosas. Hoje, sabemos que a rápida expansão e as conversões islâmicas fora da península arábica aconteceram, entre os séculos VII e XII, sobretudo pela celebração de acordos políticos e econômicos com os líderes das regiões conquistadas, que traziam vantagens político-econômicas e benefícios sociais concretos aos conversos. Isso não significa dizer que o Islã expansionista não tenha travado importantes batalhas de conquista que deixaram mortos e feridos. Porém, essas não foram guerras prolongadas, em que os exércitos muçulmanos tenham massacrado e expulsado populações civis das terras conquistadas, conforme era amplamente difundido por algumas teses orientalistas e eurocêntricas dos séculos XIX e XX, que moldaram o imaginário ocidental sobre o guerreiro árabe-muçulmano fanático com o Alcorão (o livro sagrado do Islã) na mão direita e, na esquerda, a cimitarra de fio longo, largo e curvilíneo. Essa visão está eivada de tamanho preconceito e desconhecimento sobre o tema que, inclusive após as batalhas, o Islã vencedor propunha um acordo de capitulação às tropas derrotadas, segundo o qual os prisioneiros de guerra convertidos recuperariam sua liberdade e se tornariam cidadãos do império árabe-islâmico.
Sobre as causas da expansão muçulmana também se especulou (e se errou) muito. Era lugar-comum atribuir-lhe motivações quase exclusivamente religiosas, que atestariam o caráter fervoroso e intolerante do Islã. Isso tanto não é verdade que, com as conquistas, o Islã permitiria a permanência de comunidades de judeus, cristãos, zoroastros e, depois, de alguns hindus e budistas. Considerados “povos do livro” (a Bíblia), pois adeptos do monoteísmo em alguma medida, eles tornaram-se os dhimmis (protegidos), cidadãos do Estado islâmico com prerrogativas particulares, como a permissão de manterem seus cultos e direito privado mediante o pagamento de tributos especiais. Assim, hoje é primordial entender a expansão através de seus fatores políticos, econômicos e sociais. Ao surgir, o Islã superou o viés meramente religioso-ideológico, e se constituiu mais como um novo pacto social proposto aos povos beduínos e sedentários da Arábia do que somente como uma nova religião de rituais e preceitos especiais. Como valor filosófico e metafísico, o Islã foi o instrumento para a concepção de um novo paradigma, pacificador e unificador, de etnias até então inimigas, mas cujos objetivos principais e últimos eram a construção de um corpo sócio-jurídico e um projeto político-econômico transformadores e mais abrangentes do que o elemento religioso. Assim, criou-se o conceito do jihad como o principal caminho até esse novo estado de coisas, tanto através da convicção individual de cada novo converso ao Islã como uma forma de justificar e incentivar a expansão e as conquistas islâmicas (ver quadro).
Como parte de um projeto político maior, o êxito das campanhas islâmicas nos séculos VII-VIII também está dado pela fraqueza dos adversários quando, logo após a morte do profeta Muhammad em 632, o Islã sairia da Arábia. Antes do surgimento do Islã em 610 e da unificação da península arábica até 634, os árabes conheciam o estado de penúria tanto das populações das províncias como das tropas militares dos impérios bizantino e persa sassânida após quase um século de guerras. Os súditos bizantinos e persas das províncias semitas e arabizadas do Crescente Fértil estavam profundamente insatisfeitos com a destruição de suas regiões, com as pesadas contribuições fiscais que pagavam para sustentar os conflitos e também com os cortes orçamentários de suas províncias. Já os ghassânidas e os lakhímidas, estados-vassalos árabes que defendiam, respectivamente, as fronteiras bizantinas e persas contra a Arábia, estavam sem receber o pagamento de seus soldos, o que prejudicou a manutenção da aliança. Assim, ao concluírem a unificação muçulmana da península, os árabes estabeleceram com ghassânidas e lakhímidas acordos de entrada na região, que, inicialmente, não receberam muita atenção de bizantinos e persas, pois pensavam ser mais uma incursão árabe de rotina. Ao perceberem que a ameaça era real e definitiva, os impérios enviaram mais tropas, mas já era tarde demais. O chamado “poder do deserto” das tropas árabe-muçulmanas, que as tornara exímias combatentes nesse terreno, aliado ao conhecimento de ghassânidas e lakhímidas sobre as melhores rotas e esconderijos seriam decisivos nessa primeira fase da expansão islâmica fora da Arábia (633-648), que resultou na conquista dos territórios persas e bizantinos do Crescente Fértil e das montanhas do Cáucaso.
A concepção econômica explica-se tanto pela promessa islâmica de amealhar botins muito lucrativos das regiões porventura submetidas como pela oportunidade que os muçulmanos da península agora tinham de conquistar novos territórios para satisfazer suas necessidades materiais por recursos naturais e produtos comerciais fora de uma região freqüentemente sujeita a períodos de escassez e crises. Assim, se fora edificado um novo sistema político-jurídico que proibira os velhos ataques de pilhagem do período pré-islâmico entre as etnias árabes – que, em nome de um valor maior, o Islã, agora constituíam um fato nacional coeso, o da comunidade ou nação islâmica (“ummah”) –, era evidente que, pelo menos em curto prazo, a nova ordem social islâmica não conseguiria cumprir a promessa de proporcionar um tratamento sócio-econômico plenamente igualitário (ou, no mínimo, redistributivo da riqueza), especialmente quando as instituições muçulmanas recém estavam sendo fundadas e consolidadas. Assim, a expansão para além do território árabe original fez-se imperiosa e colocaria, antes do fim do século VII, o controle das principais rotas comercias de longa distância de Oriente a Ocidente sob um único poder centralizado, o dos califados islâmicos.
Como vimos, após a morte de Muhammad em 632, a chamada primeira fase da expansão islâmica levara à derrota final de bizantinos e persas e, pois, à conquista islâmica da Pérsia, Iraque, Síria-Palestina, Egito e Armênia. Algumas batalhas memoráveis, como as de Qadissía e Yarmuk, foram decisivas para a instalação do Islã, respectivamente, na Pérsia e na Síria-Palestina. Essa etapa fora realizada pelos governos dos chamados “califas perfeitos” (632-660), quando ainda não ocorrera a guerra civil islâmica (656-661) que causaria a primeira cisão (fitnah) do Islã entre sunitas e xiitas. A ortodoxia sunita saiu vencedora desse embate, e a capital islâmica foi transferida de Medina para Damasco, que se tornou a sede do califado omíada, denominação da nova dinastia fundada por Muáuyia I (661-680).
Interrompida de 650 a 660, a expansão islâmica entraria na segunda etapa em 680, quando os omíadas retomariam o avanço rumo ao norte da África e ao Ocidente muçulmano, o Maghrib (atuais Argélia e Marrocos), para daí cruzarem o estreito de Gibraltar (do árabe “Jábal al-Táriq”, ou “montanha de Táriq”, em homenagem ao general bérbere que o conquistou) em direção à península ibérica, que seria arrebatada ao reino visigodo entre 711 e 716 e se tornaria a província omíada de Al-Andalus com capital em Córdoba. Rumo ao Oriente (o Mashriq islâmico), as conquistas omíadas na Ásia Central ocorreram de 694 a 714 nas regiões do Khurassan, Khuarizm e Transoxiana (atuais Afeganistão, Turcomenistão e Uzbequistão). Assim, essas duas primeiras fases da expansão islâmica (633-648 e 680-714) são a base da constituição dos chamados “territórios islâmicos clássicos”, cujas fronteiras não se alterariam muito até inícios do século XII. Os séculos VII e VIII também foram o período da consolidação do elemento étnico-cultural árabe, isto é, embora o Islã estivesse dirigido a todos os povos conquistados sem distinção de etnia ou classe social, a origem árabe manteve uma hegemonia sobre as nações dos fiéis recém conversos e em vias de islamização, especialmente os bérberes, persas e khurassanitas. Estes constituíam um grupo sócio-econômico marginalizado, pois eram penalizados pela tributação excessiva de alguns impostos, além de serem preteridos nas posições de mando do comércio e da agricultura e nos altos cargos públicos. Esse foi o principal motivo para a revolução abássida, cuja vitoriosa coalizão entre um familiar distante do profeta Muhammad, Al-Abbas, os conversos (mawali) discriminados e os xiitas minoritários e perseguidos, deporia, em 750, o califado omíada de Damasco em nome do Islã e contra a supremacia árabe.
Abd al-Rahman I, sobrevivente dos omíadas destituídos foge de Damasco para Al-Andalus, onde, em 756, aliado à oposição local, derruba o governo provincial representante dos abássidas e funda o emirado (principado) de Córdoba, também como uma forma de trazer ordem à província que recém saía de um período de revoltas bérberes contra os privilégios econômicos e sociais da elite árabe e de conflitos entre partidos inimigos pelo poder. Devido a sua recente formação, não era seguro o emirado declarar a emancipação total dos abássidas e arriscar-se a sofrer uma intervenção num momento de fraqueza político-militar. Assim, embora o emirado se dissesse formalmente parte do califado, ele obteria uma ampla autonomia e seria administrado como se outro reino fosse. A fundação de Al-Andalus levou os muçulmanos a ocuparem, no século VIII, mais de dois terços (75%) da península ibérica e a cruzarem os Pirineus rumo à França dos carolíngios, de onde retrocederam após perderem a batalha de Poitiers (732). Entretanto, no início do século IX, o Islã começara a enfrentar os avanços dos reinos cristãos de Astúrias e Navarra no noroeste da península e dos francos em Barcelona, regiões de refúgio da aristocracia visigoda. Assim, constituiu-se a “Marca Hispânica”, uma região de fronteira entre o Islã andaluz e os reinos católicos, que ocupava um largo território quase vazio de população, onde tropas estacionadas resguardavam ambas frentes de batalha. O governo de Abd al-Rahman II (822-852) organizou o Estado conforme o modelo abássida de autoridade total do soberano, administração centralizada, burocrática e hierarquizada, sob a direção do hájib, chefe de governo equivalente ao vizir abássida. Assim, houve paz interna, apesar das escaramuças com os reinos cristãos, a economia era próspera e a corte vivia na opulência e cercada de sábios, poetas e filósofos.
Após a revolução abássida de 750, as reivindicações dos “mawali” por um tratamento social mais justo e igualitário, ou seja, verdadeiramente islâmico, seriam parcial e temporariamente atendidas. O centralismo político e a unificação econômica do califado, cuja capital agora era Bagdá, perduraria, dependendo da região, até 900 ou 950. A dinastia abássida manteria a maioria das conquistas islâmicas dos omíadas, exceto pelas perdas territoriais que sofreria para os bizantinos na Anatólia, no Cáucaso armênio e no Mediterrâneo (ilhas de Chipre e Creta), mas avançaria na planície do rio Indo (atuais Afeganistão e Paquistão), no extremo sul da Itália (Calábria e Puglia) e nas ilhas mediterrâneas da Sardenha, Sicília e Malta. O período de unidade e apogeu abássida (750-900/50) caracterizou-se também pela “orientalização” do Islã, quando as elites persas, khurassanitas e centro-asiáticas desempenhariam um papel fundamental nos governos das províncias islâmicas orientais, onde controlariam a produção agrícola e organizariam as caravanas comerciais de longa distância, ligando a China ao Maghrib e à Europa. Porém, quando eclodiam crises econômicas e políticas no centro do califado, como a revolta dos “zanj” (escravos na agricultura do baixo Iraque), as comunidades rurais das províncias abássidas orientais tinham de contribuir com a maior parte da extração do excedente econômico através de uma pesada tributação de sua produção, enquanto as atividades comerciais e urbanas e a aristocracia de Bagdá e Damasco desfrutavam de vantagens políticas e econômicas. Assim, por volta do ano 900, a fim de atender algumas reivindicações e debelar revoltas contra os representantes do poder califal nas províncias orientais, os abássidas lhes concederiam maior autonomia. No entanto, diante de revoltas cada vez mais violentas e numerosas, os abássidas assistiriam a um processo de separatismo provincial iniciado no Oriente, que se alastraria por todo seu território.
Até meados do século X, a irreversível fragmentação abássida resultaria na formação de dois importantes califados. No Maghrib, diante das ameaças dos reinos cristãos do norte e, sobretudo, das ambições fatímidas ao sul, Abd al-Rahman III (912-961) declararia a fundação do califado omíada de Córdoba em 929. No Mashriq, sob a área direta de influência de Bagdá, surgiria, a partir de uma doutrina minoritária originária da Ifríqiya (atual Tunísia), o califado fatímida do Cairo que, fundado em 969, seria a primeira formação social islâmica xiita. Com o califado omíada de Córdoba, a sobrevivência do sunismo estava assegurada e, agora sim, a completa independência de Al-Andalus do califado abássida fora formalizada. O apogeu de Al-Andalus ocorreu no reinado do fundador do califado, que reforçou sua autoridade e prestígio ao recuperar parte dos territórios tomados pelos cristãos e ao fazer de Córdoba o maior centro intelectual e artístico do Ocidente. Durante o período do califado omíada de Córdoba (929-1031), a expansão islâmica avançou, e partes do território da Marca Hispânica foram reconquistadas. Consciente do perigo representado pelos fatímidas xiitas, Abd al-Rahman III enviou reforços à África para formar aí uma área defensiva dos povos bérberes, uma vez que agora o Maghrib africano também formava parte do califado de Al-Andalus. Entre 975 e 1031, ano da extinção do califado de Córdoba, ainda é importante referir a conquista islâmica de Santiago de Compostela em 997.
Fatímidas e omíadas andaluzes buscaram, no século X, obter o domínio absoluto sobre o Maghrib e o norte da África. Mas, com a fundação do califado fatímida do Cairo em 969, as fronteiras ficaram estabelecidas na região da Ifríquia. O Egito experimentou um grande impulso político, comercial e intelectual sob os fatímidas, que se expandiriam até a Síria-Palestina. Aí, lutariam contra os cruzados de 1095 a 1171, quando, enfraquecidos, seriam depostos pelos curdos sunitas de Salah al-Din Al-Ayub (Saladino), os aiúbidas.
Jihad x Guerra Santa: um antigo mal-entendido
Apesar de não conter no seu núcleo semântico a noção de “guerra”, a palavra árabe jihad é quase sempre traduzida e alardeada como “guerra santa” pelo discurso dominante – e ignorante – a respeito dos conceitos e da história do Islã, o que empobrece o debate sobre a compreensão de seu primordial significado, sobretudo no período do Islã clássico (séculos VII-XIII). Na verdade, jihad expressa a idéia geral de “esforço” em conhecer e entender os princípios do Islã, a fim de aceitá-los e praticá-los de forma individual e coletiva. Individualmente, esse “jihad-esforço” atuaria tanto sobre o foro íntimo do converso, através de uma reflexão moral e espiritual para uma compreensão e aceitação conscientes do Islã, como em termos físicos e estéticos. Assim, esse momento de introspecção pessoal ocorreria por meio do estudo dos preceitos e práticas sociais islâmicos sobre determinado tema e, também, através da oração e culto a Allah. Física e esteticamente, o converso ao Islã deveria preparar seu corpo e mente, além de, na sua vida prática cotidiana, agir para alcançar seus objetivos pessoais e realizar-se como indivíduo em harmonia com os valores muçulmanos e da comunidade (islâmica ou não) em que vivesse.
Já o “jihad-esforço” coletivo de propagação do Islã e de realização social de seus preceitos seria de duas formas: o discurso (falado ou escrito) e a ação social. Aqui, como no “jihad-esforço” individual, o conhecimento e a educação prévios são prioridades na difusão do ideal islâmico. Nesse sentido, o “jihad-esforço” coletivo poderia expandir o Islã entre populações não-muçulmanas, a fim de convertê-las através de um discurso proselitista de ensinamento ou doutrinação, ou pela celebração de acordos político-econômicos e pactos sociais, em que o fato de abraçar o Islã trouxesse benefícios, especialmente materiais, aos conversos, cuja conversão ocorreria mais por interesse do que por convicção. Já nas sociedades islâmicas, o discurso e as ações sociais poderiam agir na assistência material, espiritual e/ou terapêutica de pobres e necessitados em geral, como órfãos, idosos e deficientes físicos e mentais. Mas, também seria possível praticar o “jihad-esforço” coletivo através de um discurso e de ações sociais concretas que legitimassem certa ordem político-social muçulmana, ou, por outro lado, que a contestassem e propusessem sua reforma ou destruição por considerá-la opressiva ou ilegítima em relação ao que deva ser o verdadeiro Islã para os grupos oposicionistas.
A “guerra santa”, esta sim de caráter violento e armado, seria de defesa ou de ataque. Esta espécie de jihad, que não se confunde com a anterior, dizia respeito à luta armada contra os inimigos do Islã ou uma sociedade muçulmana rival, ou até contra a própria ordem islâmica instituída. A guerra santa de ataque ou defesa era o único combate permitido pela lei islâmica, que a mantinha sob estrito controle. Ela deveria ser precedida de um chamamento de adesão ao Islã ou de um tratado de paz, a fim de tentar evitar o conflito, que, mesmo deflagrado, era conclamado publicamente e declarado pela autoridade competente, mas sem atacar nem envolver pessoas que não fossem combatentes. A comunidade islâmica atacada ou invadida buscaria formas de se defender, geralmente através de um contra-ataque. Por outro lado, a guerra santa de ataque seria declarada como última e extrema opção diante do fracasso de uma política de entendimento ou aceitação do Islã por meio do “jihad-esforço”. Assim, a guerra santa de ataque teve, sobretudo no período que é objeto deste estudo (o Islã “clássico”), essa natureza secundária e residual, segundo a qual, quando o Islã não se fazia compreender e aceitar através do “jihad-esforço”, esta modalidade seria a alternativa para a expansão, conquista e conversão islâmicas.
A partir do século XII, as Cruzadas (a “guerra santa” católica) dominariam um cenário sangrento, do qual talvez cristãos e muçulmanos jamais tenham podido se recuperar. O “jihad-esforço” já não jogaria o papel principal na expansão e nas futuras conquistas do Islã. De fato, tanto nessa época como hoje, parece que o “jihad-esforço” perdeu a batalha para a enganosa “guerra santa”, cuja única real santidade descansa na memória dos que abateu e dos que ainda abate.
Adaptação de artigo publicado na revista "História Viva"- edição especial "Grandes Religiões n. 4: Islamismo", maio de 2007.